Contextos políticos,
sociais e culturais do(s) Modernismo(s)
- Entre
1885 e 1930 surgiram “quase todas a invenções que iriam moldar a civilização
industrial da segunda metade do século XX”: o telégrafo, o automóvel, a lâmpada
elétrica, o telefone, a fotografia, a máquina de escrever e a de costura, o
cinema, o avião.
- “Nesta
época o tráfico automóvel encheu as grandes cidades, milhões de camponeses
deixaram os campos rumo à América (25 milhões de europeus chegaram aos Estados
Unidos entre 1875 e 1900), as mulheres das classes médias começaram a trabalhar
fora de casa e a estudar em liceus e universidades. O sufrágio universal,
nalguns casos abrangendo já a população feminina, convertia-se definitivamente
na base dos governos. Escritores e pintores declaram ruidosamente o seu
desprezo pelas seculares regras de gramática e da perspetiva e produziram
novelas sem intriga e quadros que nada pareciam representar. A servir de
cenário para tanta irreverência estava a desarrumação social provocada por um
século de crescimento populacional e económico.” (José Mattoso, História de
Portugal, Círculo de Leitores, 1994)
- Vivia-se
um clima de euforia e de otimismo que se manifestou na literatura e nas artes,
sob a forma de canto da energia, da força, do Homem, de todas as
manifestações de vida, presente na
poesia Walt Whitman, poeta norte americano ou de Marinetti e outros futuristas;
também na vida quotidiana se assistia a uma enorme alegria de viver, patente no
luxo, na boémia parisiense, - a belle époque – na realização da Grande
Exposition Universelle de Paris (1889). O ferro e o aço – e mais tarde o
cimento armado – tornam-se materiais d uma nova arquitetura, simbolizada na
Torre Eiffel e no “modern style” ou “arte nova”.
- Também no
comércio se pensava em grande – surgem as primeiras “grandes superfícies”
(Grands Magasins, Printemps, Grandela, Chiado...), a agricultura desenvolvia-se
(progresso das máquinas e incrementos das indústrias químicas dos adubos).
Outros setores entravam em franca expansão, por exemplo, o da Banca.
- A par
destes fatores geradores de euforia, graves problemas surgiam:
- Crises cíclicas de superprodução (1888, 1896,
1900, 1913, 1917, 1922), geradoras de miséria social, crises de habitação
(ligadas à diminuição da mortalidade, graças aos progressos da medicina e
da higiene), grandes movimentos migratórios (sobretudo para os EUA,
Canadá; Austrália, Brasil...)
- Movimentos sociais que levaram, ora à
Revolução (Rússia, 1917), ora ao desenvolvimento de sentimentos
nacionalistas e xenófobos (que levariam a diversos fascismos e a duas
Guerras Mundiais).
- Em
Portugal o sentimento de decadência agudizou-se a partir de 1870, dele
tendo nós ecos sobejos nas obras de Eça de Queirós, Antero de Quental, Cesário
Verde e outros – daí o decadentismo inerente às correntes finisseculares do
Neo-garretismo, do Simbolismo ou do Saudosismo, presentes na poesia, na prosa
narrativa e no teatro. Do ponto de vista político, assistiu-se ao
desenvolvimento do sindicalismo e da ideia republicana (vitoriosa em 1910). Os
tempos da 1ª República foram difíceis, com sucessivas crises financeiras e
políticas. A emigração em massa para o Brasil, EUA e, em especial para as
colónias, a instabilidade política, a participação na Primeira Guerra Mundial
aumentaram esse clima de pessimismo e de miséria. Por isso, alguns dos nossos
melhores espíritos acolheram com bons olhos a tentativa ditatorial de Sidónio
Pais e, em 1926, a Ditadura militar e o regime do Estado Novo (António Pessoa,
por exemplo, só posteriormente se distanciou do regime salazarista.)
Crise
de consciência, crise da Razão
- Tais
fatores contraditórios acompanharam um pôr em questão de toda uma série de
pressupostos filosóficos de base cartesiana e positivista. Para tal muito
contribuíam Freud (“pai” da psicanálise)
e Einstein (teoria de relatividade).
Esta crise do pensamento racional gerou um
reforço de atitudes filosóficas de pessimismo (Hartmann, Shopenhauer) e de decadentismo,
marcadas por um clima de ceticismo em relação à Razão, à Moral e à própria
Ciência... Desenvolveram-se as Ciências Humanas (Antropologia, Psicologia,
Sociologia...) e, na Literatura e nas Artes, deu-se largas a conceitos anti
tradicionais, propondo-se caminhos estéticos novos, definitivamente afastados
dos pressupostos aristotélicos, naquilo que podemos designar por Modernismo
(s).
Amélia Pinto Pais, História da Literatura em
Portugal, Areal Editores (texto adaptado.)